terça-feira, 26 de março de 2013

O menino diferente - Plinio Ventura Nunes Filho


Era meados do ano de 2011, tudo igual como dantes naquela escola de uma periferia brava de Osasco, professores na sala de aula, crianças sentadas cada uma em seu lugar, aparentemente, nada de diferente, ou desigual.
Os dias passaram como de costume, crianças dando trabalho, falando sempre, participando das aulas e um detalhe, em especial chamou atenção de alguns poucos professores, algo que destoava daquele contexto que normalmente é esperado. Toninho, aquele menino de estatura mediana, magro, de olhos verdes e carentes, deixou-se ser visto por alguns atentos professores daquela sala. Dona Zita, uma professora das letras, sempre simpática e muito próxima dos alunos, reparou que Toninho mostrava-se recolhido num canto da carteira no fundo da sala quase não falava, recolhia-se sempre que alguém o olhava, dobrava-se mais e mais até quase afundar na cadeira sob a mesa. 



A partir daquela cena, dona Zita passou a observar Toninho com outros olhos, foi aproximando-se dele, conversando um pouco cada dia, conquistando o menino com uma paciência daquelas professoras que nasceram para o ofício da educação. Uma das manhãs, sem que ninguém esperasse, na aula de dona Zita e na leitura da crônica “Dois amigos e uma chato”, Toninho pediu a palavra e começou a comentar o texto de maneira desconexa, incoerente e verdadeiramente infeliz. Não conseguiu nem terminar a sua fala quando os colegas logo começaram a rir, rir muito, rir alto e sem respeito pela diferença de Toninho.
Nesse momento, dona Zita, sem pestanejar, pediu que todas aquelas crianças ficassem com os olhos fechados, as mãos sobre a mesa e começou a mostrar coisa que as crianças não podiam ver porque estavam de olhos fechados, em seguida, sugeriu que fizessem atividades direcionadas apenas aos que podiam enxergar. A partir daí, nada feito, ninguém conseguiu dar continuidade ao que estava sendo proposto pela professora. Foi nesse momento que dona Zita aproveitou e deu uma verdadeira aula de civilidade às crianças, mostrando para elas que todas as pessoas eram diferentes e que cada uma tinha suas possibilidades, ou nisso ou naquilo que se propunham a fazer, logo, respeitar as pessoas seria o melhor para se viver em harmonia na sociedade.
Na semana seguinte, houve uma apresentação dos alunos que tinham habilidades com instrumentos musicais na escola e, para a surpresa de todos, aquele menino quieto, afundado na cadeira, quase debaixo da mesa, subiu no palco e tocou maravilhosamente seu violino como um músico profissional jamais poderia criticá-lo por erros ou faltas.
Diante disso, os alunos que assistiam ao espetáculo ficaram maravilhados com o show que o menino dava, a partir daí, Toninho foi muito aplaudido após sua apresentação, tornando-se o um dos garotos mais participativos nas aulas e conquistando muitos amigos naquele meio que outrora o ignorava e o desrespeitava.

 Plínio Ventura

2 comentários:

  1. Adorei o texto muito lindo, e o melhor é que ele mexe com as pessoas

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  2. adorei o texto muito lindo mesmo, e o mais legal é que ele mexe com os sentimentos das pessoas, é muito lindo mesmo adorei de verdade

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