quinta-feira, 13 de junho de 2013

Nosso querido Alfredo - Plínio Ventura



Nosso querido Alfredo

Meu nome é Ateobaldo Batista, sou do Nordeste do Brasil, vivo aqui em Osasco e tenho 67 anos, sou casado e pai de três filhos maravilhosos, a Aninha, o Marco e o Alfredo. Eu e minha esposa estudamos até o ensino médio e trabalhamos a vida toda num órgão público, e essa história começa logo depois da chegada do Alfredo, nosso terceiro filho.
Na verdade, ele tem uma deficiência física, passou da hora de nascer, como diziam os médicos e, no seu desenvolvimento, tudo seria difícil, principalmente, quando o assunto era a escola, uma vez que ele era cadeirante e apresentava uma deficiência na mão direita, o que o impediria, de certa forma, de segurar com firmeza qualquer objeto que ele precisasse usar. 
As grandes barreiras quando fomos matriculá-lo numa escola estadual perto de casa foram a vergonha nossa por termos uma criança daquele jeito e a postura da diretora que nos disse que não seria possível sua matrícula ali porque lá tinha muita escada e ninguém levaria o menino pelos degraus acima, se nós tivéssemos alguém para ficar e acompanhá-lo, tudo bem, caso contrário, não daria. Foi muito triste essa fase, pois não tínhamos, naquela época, nenhuma informação para mantermos o Alfredinho na escola, então, começamos a escondê-lo em casa durante alguns bons anos.  



Para nossa surpresa, esse menino só nos trouxe alegrias ao longo de sua vida, na época de sua entrada na educação primária, decidimos procurar uma assistente social que nos indicou uma escola que trabalhava com crianças deficientes e fomos até lá, para nossa surpresa, fomos muito bem atendidos por uma moça também cadeirante como o Alfredinho que era a assistente social da escola, quase tivemos um ataque cardíaco com aquela surpresa. Após uma senhora acolhida e a matrícula de nosso filho ali, saímos daquele lugar como nunca antes de outro qualquer. Ah, o transporte escolar iria buscá-lo e deixá-lo em casa todos os dias.
O tempo passou, nosso filho foi muito feliz ali, estudou lá até formar-se no colegial, foi uma fase de altos e baixos, de conquistas e de derrotas também, de superações, de brigas, de alegrias de muitas e muitas emoções, como esta que estou sentindo ao relatar essa história de nossas vidas.
Hoje, me sinto um homem realizado, mesmo sozinho após a morte de minha esposa, por ter três filhos maravilhosos, formados, trabalhadores e com suas famílias. Inclusive o Alfredo, aquele que tínhamos vergonha e a diretora da primeira escola que fomos matriculá-lo o recusou, ele é advogado, trabalha com a inclusão social e escolar de crianças, leciona na Universidade de São Paulo, é doutor em Direitos Humanos e é quem cuida de mim todos os dias, me oferecendo carinho, companhia, amizade e respeito. Ele diz que se nós não fôssemos quem fomos com ele, jamais teria conseguido ser o homem feliz que é hoje.
Pra mim, a melhor escolha que fizemos eu e minha esposa, foi a de ter dado ao Alfredo a oportunidade de ser como era, de ter estudado, vivido no meio de outras crianças como ele e os ditos normais, ter saído sem nós, ter sido incluído na vida. Sem dúvida, essa é a maior riqueza que proporcionamos ao nosso querido menino caçula e a maior alegria de minha vida.

Ateobaldo Batista

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